A primeira vez que vi gente a viver nas ruas foi no início dos anos 90 (1991/92?) no Rio de Janeiro. Famílias inteiras nos passeios de Copacabana com lençóis, tachos e tudo o mais que se costuma ter debaixo de um tecto. Nunca tinha visto semelhante coisa, embora ouvisse falar da pobreza que se vivia naquele país. Foi nessa altura que decidi que não devia passar férias em países em que as pessoas viviam desta maneira enquanto eu me alambazava de caipirinhas numa esplanada mesmo ali ao lado.
Saliento que olhar de turista nunca é o mais acertado. É preciso andar nos transportes nas horas de ponta, frequentar os mercados e talhos diariamente e as tascas onde o povão almoça.
Por razões profissionais, por volta de 95/96 passei algum tempo da minha vida em Dublin, Irlanda. Na altura, falava-se do exemplo da Irlanda e de como tinham aplicado os fundos da então CEE. Na verdade, eu não conseguia ver nada. Mas lá pensei que os fundos tinham sido investidos no interior em indústrias ou agricultura, benefícios que não se sentiam na capital do país. Dublin era igualzinha a Lisboa, apenas mais cinzenta por causa do clima. Em termos de desenvolvimento não havia nada a salientar. Boa onda, muitos copos, comércio fechado às 17H00 e mais copos a seguir. Volto para Portugal e comento com algumas pessoas que me diziam que eu devia estar doida, que Irlanda era um exemplo. Acabei por concluir que tinha abusado do Black Bush e que afinal não tinha dado por nada daquilo que os jornais falavam.
Passados 10 anos vou trabalhar para Madrid, Espanha. Por essa época falava-se que este país era a 5ª maior economia do mundo. Andei de metro e de comboio à hora de ponta. Trabalhei numa empresa com 300 funcionários. Acordava por volta das 6h30 e vivia num hotel numa zona nobre da cidade, junto à Castellana. E garanto-vos que o que eu vi nas ruas de Madrid batia aos pontos a miséria que presenciei no calçadão do Rio de Janeiro. E, sim, estava na Europa, num suposto país do Primeiro Mundo e na tão afamada 5ª maior economia do mundo. Quando voltei a Portugal disse a várias pessoas o que tinha visto. Que achava que a tal grandiosa economia estava colada com cuspo e que tudo não passava de uma gigantesca operação de cosmética em que os espanhóis são imbatíveis. Só para dar um exemplo estúpido mas que diz muito: as espanholas andam sempre muito bem penteadas e vestidas, mas não tomam banho. Por fora a coisa até aparece apetecível, mas o cheiro a podre é perceptível a léguas. Desde que se esteja lá.
Não percebo nada de economia, nem de PIB’s, nem de taxas de crescimento. Sou uma total leiga na matéria. Mas sei o que vejo. E o que eu vejo em Portugal é que numa página de jornal lê-se que a taxa de desemprego entre os jovens ronda os 23% e na página seguinte também se lê que o concerto da Shakira está esgotado. Em que é que ficamos afinal?
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