Muito se fala da auto-estima como um dos principais factores para a felicidade.
Já me pediram várias vezes para falar neste assunto, e embora eu considere que o aflore na maioria dos meus posts, vamos então tratar da coisa oficialmente.
A auto-estima constrói-se logo no início. Logo quando os pais estão presentes e têm orgulho em nós. Quando nos acompanham e riem das nossas graças. Quando nos tratam como um ser humano único e nos fazem sentir únicos. Esta é a primeira fase, que eu tive a sorte de ter, mas que seguramente nem todos tiveram acesso a ela, por isso passemos à etapa seguinte.
Considerando que as nossas vidas estão nas nossas mãos e deixando para trás a infância, entramos na fase da adolescência onde tudo é aparentemente enorme, principalmente as coisas más, e os problemas tomam proporções gigantescas, precisamente por não sabermos lidar com eles. A adolescência feminina é um drama. Ou somos gordas, ou somos magras, ou temos mamas enormes ou somos tábuas de passar a ferro, ou temos borbulhas, ou aparelho nos dentes... enfim, uma infinidade de tragédias sempre prontas a assolar-nos e o pior de tudo, é que ninguém vê a dimensão da coisa. No meu caso, era uma lingrinhas, só tinha pernas, saía ao pai e no ciclo preparatório era mais alta que a maior parte dos professores. Uma aberração portanto!
Como dar a volta à tragédia?
Tinha graça, um cabelo muito bonito, era muito interessada em quase tudo, lia tudo e mais alguma coisa, ouvia programas de rádio, conhecia toda a música possível de conhecer na altura (só havia dois canais de tv e não, não havia internet, pasmem-se!), ia ao cinema, ia às matinées do Rock Rendez Vous. Ou seja, sem ser especialmente interessante em termos físicos, era uma adolescente deveras interessante em todas as áreas que me eram permitidas. Os meus namoradinhos eram giríssimos e cheios de piada, os ídolos da escola, e nem eu própria percebia muito bem como é que eu acabava por ser também um “ídolo”, quando a aparência parecia ser o mais importante. Hoje em dia, percebo. Tudo aquilo que construí, tornou-me única aos olhos dos outros. Era boa aluna, embora uma rebelde de primeira, contestatária, mas cheia de piada. Não digo com isto, que fosse a palhaça da escola, mas lá que era uma caixinha de surpresas, quanto a isso, não há dúvidas.
Os interesses têm-me acompanhado ao longo da vida, e hoje perto dos 40 e olhando para trás, vejo que tenho tido uma vida recheada de acontecimentos absurdos e interessantes que me diferenciaram sempre, e que me deram um toque muito especial.
Preferi viajar a ter um carro, preferi ir para o estrangeiro experimentar coisas e trabalhar lá fora, em vez de optar pela segurança. Conheci gente interessantíssima, importante, convivi com escritores e artistas, sempre sabendo que, embora eles fossem estrelas reconhecidas, eu também cintilava e brilhava sem o ser.
Procurar o nosso brilho, a unicidade que há dentro de nós, é a chave da auto-estima. Enquanto quisermos sermos iguais aos outros, nunca nos vamos conseguir valorizar e é em nós que reside o segredo.
Quando era moda gostar de Fernando Pessoa, eu preferia Mário de Sá Carneiro. Quando era cool andar de jeans eu andava de calças de cabedal. Quando era o máximo ter longos cabelos, eu cortei o meu curto só de um lado.
Não me contento com a mediania. Nunca quis isso para mim. Sou especial, como todos somos. Para isso, basta apenas que paremos para olhar para dentro de nós e procurarmos onde somos únicos. E explorar isso de forma inequívoca.
Este é o meu conselho para 2008. Temos de dar valor ao que temos, ambicionarmos ser melhores e nunca, nunca querermos ser como os outros.
TNT